quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Godinho Lopes acordou em 2009


Daniel Sampaio aguçou o apetite dos sportinguistas com o optimismo de uma nova solução desportiva e financeira. Um dia depois, Godinho Lopes explicou no Conselho Leonino e em entrevista a Fátima Campos Ferreira, que essa fórmula mágica não é mais do que um regresso ao passado. Um passado que terminou com Paulo Bento e foi sendo destruído com as contratações de João Pereira e Sinama-Pongolle, primeiro, e com uma autêntica corrida ao investimento no primeiro Verão com Godinho Lopes no comando.

A estratégia despesista falhou. O Sporting quis arriscar numa conjuntura em que já se adivinhava o descalabro global e deu-se mal. O dinheiro da Liga dos Campeões faz muita diferença, quase tanta como o mercado de oportunidades que floresce à volta de uma presença na prova milionária. O Sporting falhou, por três pontos mas falhou, e este ano parece que está novamente a ir pelo mesmo caminho. É preciso restruturar, claro está. Restruturar.

Disse Godinho Lopes que um clube não pode viver a pagar um quarto daquilo que vende em encargos financeiros. Não é preciso ser génio. A solução é implementar a fórmula de sucesso da formação no futebol profissional, onde realmente tudo tem falhado. É preciso recorrer ao ADN da formação. Fátima Campos Ferreira está a dormir para o futebol e soltou um "isso vai demorar anos", mas na verdade as sementes sempre estiveram lançados. Afinal de contas, foi isso que permitiu a Paulo Bento ir camuflando o insucesso da estratégia financeira.

O regresso ao passado só é feito depois de dois exercícios com resultados negativos que superam os 90 milhões de euros. O número é pornográfico e irrepetível. Os custos aumentaram muito e de nada vale que a equipa esteja hoje muito mais bem dotada do que no passado. O plantel é equilibrado à excepção do ponta-de-lança e os patinhos-feios foram sendo erradicados progressivamente. Godinho Lopes queria um plantel internacional e conseguiu-o. Falta o resto.

O sucesso que a equipa B está a ter, com vários nomes na linha da frente, pode ter precipitado a estratégia que, na verdade, não é mais do que um sinónimo para "vamos ter de aplicar uma contenção de custos ao máximo, não há dinheiro, não se gasta". Vercauteren é também ele um elemento que se enquadra bem e tem uma matéria-prima que muitos gostariam de ter. Tem unhas na equipa principal e outras pronto a arranjar. Para já há seis jogadores formados no Sporting na equipa principal - todos os portugueses o são - e será inteligente se se continuar a apostar numa fase de mesclar os talentos estrangeiros com os nacionais.

É preciso ter paciência. Godinho Lopes está a ter um mandato para esquecer no futebol profissional e nas finanças. Sentir o plantel melhor não chega. Mas tem um grande mérito: este é de facto o caminho a seguir. E é-o com Godinho Lopes, com Bruno de Carvalho ou com qualquer outro. Seria bom encontrar um investidor estrangeiro, alguém que acreditasse no Sporting e estivesse disponível para injectar dinheiro, mas não seria suficiente. A bicefalia que Godinho Lopes fala entre futebol profissional e futebol de formação, entre SAD e clube, não tem mesmo razão para existir.

É preciso ter paciência. O Sporting é um clube que ganhou dois títulos nacionais nos últimos 30 anos, mas nós adeptos continuamos a acreditar que somos mais do que aquilo que somos realmente. É que mesmo antes desses 30 anos, o cenário não era muito melhor: da década de 50 até 1980 houve um título a cada quatro anos. Melhor do que hoje, mas ainda assim longe do sinal de grandeza que queremos ostentar.

É preciso ter paciência. Os jogadores são melhores do que aquilo que transparecem mas é preciso estabilidade. E essa estabilidade passa por tratar dos excedentários no final da época, identificar e corrigir as duas lacunas (um avançado e um médio mais criativo) e dar espaço a quem mais se destacou e mais talento demonstra na equipa B. E lança-los de forma gradual. Não é preciso inventar, apenas ter paciência. Difícil para quem anda há anos a desesperar por melhores dias.

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